segunda-feira, 21 de junho de 2010

1 Os ranges não são estáticos (1 de 2)

Uma das coisas que demorei mais tempo a perceber é que os nossos ranges não podem ser estáticos: as mãos que jogamos em determinada posição têm de variar de mesa para mesa, de adversário para adversário, de stack size para stack size. Mas vamos por partes:

UTG: em UTG o nosso range deve ser sempre curto, algo do género AT+, KQ, 22+ -eu pessoalmente não abro 22-55...). Este é um range curto, destinado a flopar pares altos e a não nos comprometer, uma vez que a probabilidade de jogarmos a mão fora de posição é relativamente elevada. Mas se alguém me perguntar "qual o teu range para abrir utg em 6-max?" a minha resposta é outra: depende.

E depende do quê? Dos adversários. Se a mesa for essencialmente tight (jogadores regulares, ou as chamadas rochas) e nas blinds tivermos um jogador (se forem dois melhor ainda) fraco, que joga muitas mãos, com dificuldade em largar mãos fracas em todas as streets, então o nosso range para abrir deve ser estupidamente maior - e quanto mais deep estivermos (nós e o jogador fraco), mais tendência devemos ter a abrir um leque maior de mãos.

Por exemplo, se estiver 150bbs deep contra um mau jogador na BB, e o resto da mesa for tight, podemos abrir mãos como suited connecters ou todas as mãos em que ambas as cartas sejam iguais ou maiores que dez.

Isto também se aplica se os jogadores fracos estiverem com posição sobre nós (no CO ou BTN), mas nesses casos vamos jogar fora de posição, vamos perder a possibilidade de controlar o pote. Assim, também podemos aumentar o nosso range de mãos a abrir, mas adicionando mãos altas, que flopem Top pair e das quais possamos tirar 3 streets de valor, e nunca mãos do tipo suited connecter. Posto isto, a estratégia para a posição seguinte é essencialmente a mesma, o que nos deixa com...

CO: Estas é uma das posições mais importantes, porque vamos jogar com posição sobre quase toda a mesa. Assim, tudo o que é mão jogável pode ser aberta. O meu range volta a depender da mesa, mas abrir algo parecido com todos os suited aces, A8o+, KT+, QT+, J9+, todos os pares, a maioria dos suited conecters (56s+), alguns offsuited connecters (89, 9T...), suited one gaper connecters (68s+) raramente é uma estratégia errada.

Só que aqui entra em jogo o facto de termos uma boa posição: contra jogadores tight à nossa frente abrir uma série de mãos só para tentar apanhar as blinds é uma estratégia que tem de fazer parte do nosso jogo, abrindo mãos como K8s ou 45s.

Ao mesmo tempo, vs. um jogador na BB ou SB que está short stack, as implied odds para jogar connecters diminuem, pelo que provavelmente será uma boa ideia retirá-los do nosso range.

Se tivermos um jogador que dá muitas 3bets da bb ou do btn, devemos reduzir o nosso leque de mão que vamos abrir, e ter pouquíssimas mãos no nosso range que sejamos obrigados a foldar vs. 3b, seja através do recurso à 4bet ou através do call para jogar a mão pós flop.

Regra geral, o ideial é não jogar mãos em 3b potes fora de posição, por isso devemos reduzir ainda mais o range se o jogador com tendência para fazer 3bet estiver no botão, podendo abrir mais mãos se esse jogador estiver nas blinds. Os ranges para reagir a 3b dependem da frequência de 3b, mas se esse jogador tiver uma stat de 3b a rondar os 15 por cento no botão sobre um sample relativamente largo (mais de cinco mil mãos), dar 4b com todos os nossos Ases é uma estratégia que devemos estar a usar com alguma regularidade - mais sobre isto num dos próximos posts do blogue...

BTN: mais ou menos tudo o que foi dito sobre o CO, mas podemos abrir ainda mais mãos. Todos os ases, muitos SC mesmo sendo one e two gappers, K5s ou 46s são mãos que podem ser abertas, mas mais uma vez é preciso saber ajustar aos adversários: contra jogadores short stack maus (que vão fazer call pre) devemos abrir essencialmente mãos com cartas altas.

Já contra regulares que vão ter um range extremamente curto para jogar fora de posição (e que não dão tanta 3bet quanto isso) podemos abrir com quase any 2 cards - coisas como 37s ou Q5s tornam-se mãos com que devemos abrir, uma vez que eles vão foldar imenso e nós podemos recolher as blinds sem grande luta.

Contra maus jogadores que vão defender imenso a sua BB não podemos abrir com mãos apenas para tentar roubar (temos de estar preparados para jogar pós flop) - logo as mãos tipo 37 devem deixar de fazer parte do nosso range. Nesta posição é interessante dar calls a raises de jogadores sobre os quais temos posição com uma série de mãos, mas isso vai ficar para o segundo artigo desta série, onde vamos abordar ranges pré-flop quando já houve um preflop raise.

SB: Contra jogadores regulares (ou seja, tights) podemos abrir quase 100% das mãos. Porquê? Porque se eles defenderem pouco (como regra geral defendem) então abrir mãos que são apenas LIXO têm lucro imediato no pré flop. Se ele defenderem 25% das mãos vs. o roubo da SB, então podemos abrir 72o: é que vamos investir 2.5bbs para ir roubar 1.5 que estão no pote. Mesmo que façamos check para foldar no flop SEMPRE (e não o vamos fazer, porque é lindo quando temos 72o e eles AJ em A72r...), ganhamos 1.5bbs * 75% das vezes, ao passo que perdemos 2.5* 25% das vezes, o que nos deixa com um lucro esperado cada vez que fizermos esta jogada de 0,5bbs, o que ainda é um valor considerável. O importante é não começar a inventar depois do flop com estas mãos, e estar preparado para muitas vezes as jogar em check/fold.

Posto isto, contra jogadores que vão defender muito pré e pós flop (regra geral, o chamado calling station) devemos abrir acima de tudo mãos que possam flopar bem e que possamos apostar por valor pós flop. É extremamente importante não abrir mãos só para roubar contra este tipo de jogadores.

E qual é a regra recomendada pela maior parte das hand charts? Algo muito parecido com o botão, mas um pouco mais tight - está certo, faz sentido, mas se há posição em que devemos adaptar-mo-nos ao nosso adversário, é nesta.

Posto isto, falta o resto: quando já alguém entrou no pote antes de nós. Mas isso fica para a segunda parte deste post...


1 comentários:

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Rafael disse...

Olá, sou brasileiro e estou sempre a procurar bons artigos pela Net, este é um deles! Excelente post, parabéns!